Os Donos da Bola (parte IV)

O Dono da Bola de quem revelaremos os segredos mais obscuros pertence a uma categoria que enche páginas de jornais: as grandes promessas do futebol.
Estatuto que conquistou nas camadas jovens do FCP, acumulando prémios e distinções, enchendo de magia e ilusão os campos pelados por onde jogava, fazendo desesperar os pequenos defesas das equipas adversárias que com ele competiam nos campeonatos jovens.
Mas o pequeno coração do jovem tinha dois amores (não, o Dono da Bola não é o Marco Paulo), numa triste história que só teria termo num dos mais tristes episódios do futebol nacional: o caso “PaulinhoGate”.
Deste triste incidente falaremos mais tarde, porque antes é preciso contextualizar o que era a vida do jovem Nelson, aquele que hoje conhecem como André “Sapatilhas Deslizantes” Coelho.

Nascido e criado nos subúrbios do Porto (lá diz o ditado: “Vale mais uma rua do Porto q’a Gaia toda!”), cedo se viu confrontado com um terrível segredo que o consumiu por dentro: um amor imenso pelo SCP.
Tentou de todas as formas escondê-lo, tendo mesmo chegado a acreditar que apoiava o FCP como era norma entre os coleguinhas de escola. Nas vitórias quase sentia os golos do Madjer como seus e nas derrotas ficava muitas vezes triste. Mas (e em todas as grandes histórias há sempre um mas), havia dois jogos por ano em que, no fundo, ele sabia a verdade: os derbys FCP-SCP.
Nessas duas fatídicas partidas, Andrezito tentava com todo o seu querer apoiar os azuis mas acabava sempre em lágrimas a cada vitória portista (“De alegria” – dizia ele aos amigos). A cada golo do Manuel Fernandes, sentia a adrenalina do leão mas a pressão social era demasiada para se assumir sportinguista.
Assim sendo, foi escondendo este segredo, num processo destrutivo responsável pelo seu baixo peso, pois todos sabemos que manter tão tenebroso silêncio consome mais energia que correr qualquer maratona, pelo que Andrézito cresceu um rapazito magrinho e escanzelado (ainda hoje, gordura é coisa que por lá não abunda, certamente consumida pelas dolorosas recordações recalcadas de tantos anos de sofrimento).
Os anos foram passando e, em mais uma tentativa de se afirmar como portista, ingressou nas camadas jovens dos dragões onde despontou como figura de proa entre os demais, empurrando para a obscuridade promessas como Ricardo Sousa ou Ricardo Carvalho.
A classe era tanta que demorou pouco a ser chamado para um treino de conjunto com o plantel sénior, sendo este um marco na história do clube pois nunca antes um rapaz tão jovem tinha estado entre os “grandes”.
Marcado para as 10:30 de uma solarenga terça-feira de Abril, o treino começou com a família de Andrezito nas bancadas. Até a avozinha veio ver o neto naquele que seria o primeiro passo rumo ao estrelato.
No entanto, a alegria durou somente até à peladinha… até ao episódio que encheu páginas de jornais: o caso “PaulinhoGate”.
Jogando com os titulares, André deslumbrava, maravilhando todos com pormenores técnicos dignos de foto e crónica nas páginas centrais. Mas ao minuto 17, esse fatídico minuto, ousou desafiar Paulinho Santos com uma finta manhosa, a famosa cueca. A bola passou por entre as pernas do “trinco assassino” (nome carinhoso como era tratado) como os namorados passam pela Elsa Raposo… Um mimo… Triste foi o que se seguiu…
Um som ecoará para sempre na cabeça do jovem André e na daqueles que o ouviram… Paulinho fez uma das suas famosas entradas às pernas do adversário, de pitons em riste e dentes cerrados. Um “crack” que se ecoou em 2 segundos que pareceram décadas… Uma fractura exposta que lhe estilhaçou a perna em 6 sítios…
Deitado no chão, André viu a sua carreira passar-lhe à frente dos olhos… perdia-se a inocência do menino que chegou a sonhar com o infinito… esse lugar mágico agora desfeito nas gargalhadas daquele que no baptismo chamaram de Santos.
Levado para a ambulância, sem nunca ter chorado uma lágrima sequer, André acalmou.
Novo momento de drama… Ó Destino, ó Moléstia, porque tens de ser tão cruel?...
Escondido na ambulância, Paulinho surge debaixo da maca e grita aos ouvidos do enfermo, com um diabólico sorriso na cara… os olhos malévolos de loucura…
O susto foi de morte… (até dizem que o cabelo lhe caiu…)
Ressuscitado com choques eléctricos potentes, André foi operado… a perna não apresenta mazelas… mas o coraçãozinho do jovem jamais recuperou do sobressalto… Ele esconde-se atrás da reanimação ou da hipertensão mas, no fundo, todos sabemos que foi Paulinho o responsável pelo precoce fim de uma fantástica carreira… Mas o talento está lá, e a cada quinta-feira renasce das cinzas no sintético do ringue… e com Paulinho Santos retirado dos relvados, o sonho pode não ter terminado…

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